“De um dia para o outro estava tudo no chão”
Entre Casimiro de Abreu e Rio Bonito, a Concessionária
Autopista Fluminense já retirou 1785m³ de madeira. No distrito de Professor
Souza os impactos foram sobre o meio ambiente e várias famílias que residem próximas
a BR-101
Abacateiro, mangueira, goiabeira, bananeira, palmito, pés de
jambo, entre outras centenas de árvores nativas deixaram de existir no pequeno
distrito de Professor Souza, em Casimiro de Abreu. Localizado à margem da
BR-101, o pequeno vilarejo se estabeleceu aonde viria a surgir a principal
estrada do país. A população local ajudou a plantar muitas das árvores que
foram mortas para ceder lugar a duplicação das pistas da BR-101. Muitas delas
estavam ali há muito mais tempo que a própria rodovia, tendo testemunhado toda
sua transformação, de uma simples estrada de terra batida à estrada que liga o
Brasil de Norte a Sul.
Hoje a paisagem mudou drasticamente. De testemunhas vivas de
uma história, as árvores se tornaram obstáculos para o progresso. Para o meio
ambiente, uma grande perda. Para os moradores, o sentimento de tristeza. “A
gente fica muito triste. Pois planta uma árvore que leva anos para crescer e,
de repente, eles tiram tudo. De um dia para o outro estava tudo no chão”,
lamentou Eunice Francisca, que há 58 anos vive em Professor Souza.
Ela conta que sua mãe morava na margem da rodovia e plantou
várias frutíferas em frente a sua casa. “Ela cuidava como seu quintal. Se ela
estivesse aqui, morreria de desgosto”, falou.
Os moradores mais impactados sequer foram consultados ou
comunicados. Com uma soberania respaldada pelas licenças concedidas pelos
governos federal e estadual, a Concessionária Autopista Fluminense devastou as
árvores de uma comunidade que está sofrendo diversos impactos. “Hoje eu abro as
janelas da minha casa e penso que eu moro no deserto”, lamentou a moradora
Eloísa Helena Assis.
Lembrando que tinham várias frutas, Eloísa ainda questionou
se havia mesmo a necessidade de retirar todas aquelas árvores, já que a
duplicação da pista será feita pelo outro lado da BR-101, onde não há moradores
e residências, tornando a obra menos impactante para a comunidade local.
Afinal, a paisagem mudou completamente. O calor aumentou,
assim como a poeira e o barulho dos carros. Maria da Conceição Silva aponta
para um poço artesiano de onde moradores utilizam quando há escassez de água.
“Antes, o poço ficava de baixo das árvores. Aqui será tudo sombra. De noite
ficava molhado, parecia até que tinha chovido”, contou a moradora que há 40
anos mora em Professor.
Professor Souza já é uma localidade com características que
a tornam bastante quente, com registro de temperaturas elevadas. Por isso, a comunidade já começa a falar em
plantio de novas mudas.
Os moradores também temem pela segurança das casas e
crianças que brincam por ali, pois vários acidentes já aconteceram, mas as
árvores serviram como uma barreira de proteção. “Eu já vi três acidentes onde
as árvores seguraram os carros”, contou Eloísa.
Como compensar esse impacto?
Na entrada de Aldeia Velha, pelo menos cinco palmeiras que
adornam e caracterizam o acesso ao distrito de Silva Jardim serão mortas. A
Autopista já possui a Autorização de Supressão Vegetal (ASV) emitida pelo
Ibama. Por meio de sua Assessoria de Imprensa, a Concessionária Autopista
Fluminense informou que foram suprimidos 750m³ de lenha nativa e 1035m² de
lenha exótica entre as cidades de Casimiro de Abreu e Rio Bonito. Agora, como
compensar 50 anos de um dia para o outro?
A concessionária informou que já plantou um quantitativo de
88 campos de futebol de Mata Atlântica. “Se consideremos que muitas das árvores
suprimidas são exóticas – isto é, não são nativas da região, sua substituição
por espécies nativas em locais previamente selecionados resulta na restauração
da Mata Atlântica e do Habitat de sua fauna local, composta ameaçadas como o
Mico-Leão-Dourado, a preguiça de coleira, além de outros animais”, explicou a
Autopista.
Para compensar este impacto, a empresa firmou contrato com a
Associação Mico Leão Dourado para a recuperação de áreas da Bacia Hidrográfica
do Rio São João, nas Fazendas Búfalo Branco, Casarão da Afetiva e Renascença,
nos municípios de Silva Jardim e Rio Bonito, às margens dos rios Capivari,
Imbaú, córrego do Estreito e rio Bacaxá. Dois outros projetos aguardam
aprovação do Ibama para serem executados na Área de Proteção Ambiental (APA) do
rio São João. Um Na Fazenda Nossa Senhora de Nazaré, no município de Rio
Bonito, às margens do Rio Bacaxá. O outro, na Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) Bom retiro, em Aldeia Velha, onde a concessionária realiza um
trabalho de recuperação da mata ciliar por meio de medidas compensatórias.
“A Autopista Fluminense tem o objetivo de estender esta iniciativa visando mapear as condições das matas ciliares dos rios que cruzam a BR-101 RJ/Norte, visando formar corredores ecológicos para a Fauna e ao mesmo tempo recuperar as Áreas de Preservação Permanente (APP), através de parcerias que fortalecem esta iniciativa - como a APA do Rio São João, por exemplo. Ao mesmo tempo, a concessionária aguarda junto ao INEA, e demais instituições, a implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que será um importante instrumento de orientação, controle e recuperação de suas Reservas Legais”.