terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Árvores são devastadas para duplicação da BR-101

“De um dia para o outro estava tudo no chão”




Entre Casimiro de Abreu e Rio Bonito, a Concessionária Autopista Fluminense já retirou 1785m³ de madeira. No distrito de Professor Souza os impactos foram sobre o meio ambiente e várias famílias que residem próximas a BR-101


Abacateiro, mangueira, goiabeira, bananeira, palmito, pés de jambo, entre outras centenas de árvores nativas deixaram de existir no pequeno distrito de Professor Souza, em Casimiro de Abreu. Localizado à margem da BR-101, o pequeno vilarejo se estabeleceu aonde viria a surgir a principal estrada do país. A população local ajudou a plantar muitas das árvores que foram mortas para ceder lugar a duplicação das pistas da BR-101. Muitas delas estavam ali há muito mais tempo que a própria rodovia, tendo testemunhado toda sua transformação, de uma simples estrada de terra batida à estrada que liga o Brasil de Norte a Sul. 


Hoje a paisagem mudou drasticamente. De testemunhas vivas de uma história, as árvores se tornaram obstáculos para o progresso. Para o meio ambiente, uma grande perda. Para os moradores, o sentimento de tristeza. “A gente fica muito triste. Pois planta uma árvore que leva anos para crescer e, de repente, eles tiram tudo. De um dia para o outro estava tudo no chão”, lamentou Eunice Francisca, que há 58 anos vive em Professor Souza. 

Ela conta que sua mãe morava na margem da rodovia e plantou várias frutíferas em frente a sua casa. “Ela cuidava como seu quintal. Se ela estivesse aqui, morreria de desgosto”, falou. 

Os moradores mais impactados sequer foram consultados ou comunicados. Com uma soberania respaldada pelas licenças concedidas pelos governos federal e estadual, a Concessionária Autopista Fluminense devastou as árvores de uma comunidade que está sofrendo diversos impactos. “Hoje eu abro as janelas da minha casa e penso que eu moro no deserto”, lamentou a moradora Eloísa Helena Assis. 

Lembrando que tinham várias frutas, Eloísa ainda questionou se havia mesmo a necessidade de retirar todas aquelas árvores, já que a duplicação da pista será feita pelo outro lado da BR-101, onde não há moradores e residências, tornando a obra menos impactante para a comunidade local. 

Afinal, a paisagem mudou completamente. O calor aumentou, assim como a poeira e o barulho dos carros. Maria da Conceição Silva aponta para um poço artesiano de onde moradores utilizam quando há escassez de água. “Antes, o poço ficava de baixo das árvores. Aqui será tudo sombra. De noite ficava molhado, parecia até que tinha chovido”, contou a moradora que há 40 anos mora em Professor. 

Professor Souza já é uma localidade com características que a tornam bastante quente, com registro de temperaturas elevadas.  Por isso, a comunidade já começa a falar em plantio de novas mudas. 

Os moradores também temem pela segurança das casas e crianças que brincam por ali, pois vários acidentes já aconteceram, mas as árvores serviram como uma barreira de proteção. “Eu já vi três acidentes onde as árvores seguraram os carros”, contou Eloísa.


Como compensar esse impacto?
  


Na entrada de Aldeia Velha, pelo menos cinco palmeiras que adornam e caracterizam o acesso ao distrito de Silva Jardim serão mortas. A Autopista já possui a Autorização de Supressão Vegetal (ASV) emitida pelo Ibama. Por meio de sua Assessoria de Imprensa, a Concessionária Autopista Fluminense informou que foram suprimidos 750m³ de lenha nativa e 1035m² de lenha exótica entre as cidades de Casimiro de Abreu e Rio Bonito. Agora, como compensar 50 anos de um dia para o outro? 

A concessionária informou que já plantou um quantitativo de 88 campos de futebol de Mata Atlântica. “Se consideremos que muitas das árvores suprimidas são exóticas – isto é, não são nativas da região, sua substituição por espécies nativas em locais previamente selecionados resulta na restauração da Mata Atlântica e do Habitat de sua fauna local, composta ameaçadas como o Mico-Leão-Dourado, a preguiça de coleira, além de outros animais”, explicou a Autopista. 

Para compensar este impacto, a empresa firmou contrato com a Associação Mico Leão Dourado para a recuperação de áreas da Bacia Hidrográfica do Rio São João, nas Fazendas Búfalo Branco, Casarão da Afetiva e Renascença, nos municípios de Silva Jardim e Rio Bonito, às margens dos rios Capivari, Imbaú, córrego do Estreito e rio Bacaxá. Dois outros projetos aguardam aprovação do Ibama para serem executados na Área de Proteção Ambiental (APA) do rio São João. Um Na Fazenda Nossa Senhora de Nazaré, no município de Rio Bonito, às margens do Rio Bacaxá. O outro, na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Bom retiro, em Aldeia Velha, onde a concessionária realiza um trabalho de recuperação da mata ciliar por meio de medidas compensatórias. 

“A Autopista Fluminense tem o objetivo de estender esta iniciativa visando mapear as condições das matas ciliares dos rios que cruzam a BR-101 RJ/Norte, visando formar corredores ecológicos para a Fauna e ao mesmo tempo recuperar as Áreas de Preservação Permanente (APP), através de parcerias que fortalecem esta iniciativa - como a APA do Rio São João, por exemplo. Ao mesmo tempo, a concessionária aguarda junto ao INEA, e demais instituições, a implementação do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que será um importante instrumento de orientação, controle e recuperação de suas Reservas Legais”.







quinta-feira, 19 de junho de 2014

Limpando, ensinando e conscientizando, Mestre segue em seu barquinho no curso do rio São João ...


Foz do Rio São João possui uma beleza
singular em meio ao manguezal preservado


Nasceu o sol e Mestre Tuti sai em seu barquinho para mais um dia de trabalho. Com uma rede e puxador em mãos, ele aproveita a força da natureza e desce o rio São João junto com a correnteza. No caminho, vai recolhendo sacolas plásticas, garrafas pet, pneus, troncos de madeira, redes de pesca, latinhas de alumínio, fraldas, entre tantos outros resíduos que se acumulam entre a vegetação do manguezal.

Educador ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Casimiro de Abreu, José Otoni Moreira, mais conhecido como Mestre Tuti, diariamente realiza a limpeza no rio São João e seu mangue. São cerca de 1.300 quilos de lixo recolhidos por mês. “Quando comecei a fazer esse trabalho, há cerca de cinco anos, a quantidade de lixo era muito maior”, conta.



Além do barco coletor das margens, com o qual Mestre realiza o trabalho manual, ele mantém um barco ancorado dentro do rio para que pescadores e as pessoas que por ali passam depositem seu lixo na embarcação. O ‘Barquinho do Lixo’ funciona muito bem e vem ajudando na conscientização ambiental.

Quando a maré volta a subir, Mestre retornar para casa com o barco carregado de lixo. Depois de tomar um banho e almoçar, ele faz a separação de todo o material. O que serve, encaminha para a reciclagem. Alguns materiais são reutilizados por ele mesmo para a confecção de artesanato. Já as garrafas pet são aproveitadas para cultivar as mudas de mangue, usadas para ‘remanguezar’ o estuário do São João. Durante esses cinco anos, Mestre já plantou mais de 300 mudas, que são tiradas do próprio mangue.

Um exemplo de respeito à natureza - Natural da cidade de Trairi, no Ceará, Mestre Tuti se apaixonou por Barra de São João, principal distrito de Casimiro de Abreu, onde vive há 15 anos. De família de pescadores, a natureza foi uma grande aliada para sua subsistência e, agora, ele tenta retribuir. A pesca virou lazer, mas a relação de amor e respeito ao meio ambiente permanece. Com um sorriso e entusiasmo contagiante, ele conta como tudo começou. Todos os dias, via um vizinho que jogava duas sacolas de lixo no rio. Até que um dia pegou seu barco e esperou. Assim que as sacolas foram jogadas, Mestre as recolheu e colocou no seu muro para o caminhão de lixo levar. “Pouco depois, essa pessoa me chamou e pediu desculpas. Desde então, nunca mais jogou nada no rio e se tornou um colaborador pela conservação do nosso belo São João”, conta Mestre.


 Mestre também realiza um trabalho de educação ambiental em Barra de São João. Mostra para moradores e visitantes os impactos do lixo no meio ambiente e na saúde do homem, a importância da reciclagem e como ela pode gerar renda para muitas famílias, a relação do mangue e a pesca, entre outras lições e práticas sustentáveis que ajudam na construção de um mundo mais saudável. “Hoje a comunidade apoia e reconhece esse trabalho. Moradores e visitantes já não jogam mais lixo no rio e suas margens. Isso é muito gratificante, pois vejo que esse trabalho vem dando resultados. As pessoas estão muito mais conscientes ambientalmente”, falou.


Lições sobre o mangue - O Rio São João nasce na Serra do Sambê e deságua no distrito de Barra de São João, onde forma um estuário com características singulares. Maior rio genuinamente fluminense, ao longo dos seus 120 km o São João corta florestas de Mata Atlântica. Em sua foz, ainda abriga uma área de 5 km² de manguezal, sendo um dos ecossistemas mais bem preservados em todo o estado do Rio.

É nesse encontro do rio com o mar que o mangue se forma. Dessa mistura surge um solo alagado, rico em nutrientes e em matéria orgânica. Mestre ensina que o mangue tem uma grande importância social, econômica e ambiental. “O mangue é um grande berçário natural do mundo”, falou.

Enquanto separa o lixo que recolheu durante a manhã, Mestre vai ensinando um pouco mais sobre o mangue. Entre tantos serviços ambientais que presta, o mangue exerce influencia direta na pesca. Para se ter uma ideia, 90% do alimento que o homem retira do mar são produzidos no mangue. Pelo menos dois terços das espécies de peixes exploradas economicamente dependem desses locais, onde encontram abrigo para reprodução, alimentação e desenvolvimento das formas juvenis. Diversas espécies de aves buscam alimento e proteção nas árvores do manguezal, que também é o habitat de variadas espécies de caranguejos.

“As pessoas precisam conhecer o mangue e saber de sua importância. Eu espero que a minha mensagem chegue pelo menos a uma pessoa e que ela possa dar continuidade a esse trabalho”.

Limpando, ensinando e conscientizando, Mestre segue em seu barquinho no curso do rio São João ...

Texto: Erika Enne
Fotos: Cláudio Pacheco


















sexta-feira, 30 de março de 2012


Palestra vai abordar a sustentabilidade e a política industrial implementada no Estado


O primeiro dia do fórum da Feira de Responsabilidade Social Empresarial da Bacia de Campos, que acontece nos dias 8, 9 e 10 de maio, na Cidade Universitária, vai fazer uma abordagem crítica sobre a política desenvolvimentista implementada no Estado do Rio de Janeiro, que prioriza a industrialização em prejuízo de comunidades que sobrevivem da pesca e da agricultura familiar.

Com o tema “Sustentabilidade e Política Industrial”, a primeira palestra terá como um dos debatedores Rodrigo Santos Silva, vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais do 5º Distrito de São João da Barra, região onde a população tradicional está sendo pressionada a deixar suas propriedades para a instalação do Porto do Açu e do Distrito Industrial, empreendimentos do Grupo EBX e do Governo do Estado Rio de Janeiro.

Em sua explanação, Rodrigo fará um histórico do que vem acontecendo em São João da Barra, onde quase 500 famílias serão desapropriadas, sendo que 70 já foram retiradas de suas propriedades para a instalação dessa nova política industrial. “Se por um lado está sendo articulado o crescimento econômico da região, por outro não coloca o ser humano como peça do tripé da sustentabilidade, que alia o social, ambiental e o econômico. Nessa região vivem centenas de produtores rurais que sustentam suas famílias com o que plantam ali e não querem deixar o local onde nasceram e cultivam para sua sobrevivência”, falou Rodrigo.



Rodrigo frisou que a população não é contra a instalação do Porto do Açu, pois ela quer fazer parte do desenvolvimento que o empreendimento vai promover. Mas os produtores que vivem da terra e estão estabelecidos há mais de cem anos no local são contrários as desapropriações que estão acontecendo em suas terras para a criação do Distrito Industrial. “Nós não somos contra o porto, só não queremos deixar nossas casas. Ninguém aqui depende de prefeitura para sobreviver, pois vivemos do nosso trabalho e eles estão forçando as pessoas a deixarem seus sustentos, suas vidas. E para ir para onde? Para fazer o que?”, desabafou Rodrigo, criticando também a falta de diálogo da empresa EBX com a comunidade.

O vice-presidente da Asprim vai abordar os problemas sociais que serão gerados, já que a região abriga um mosaico de comunidades rurais, pescadores artesanais, agricultores familiares, posseiros e pequenos comerciantes. “Somos o 3º maior produtor de pescado do Estado. Produzimos mensalmente 300 toneladas de maxixe e quiabo, além de termos a segunda maior produção de abacaxi do estado, com 4,6 milhões de unidades anuais”, falou Rodrigo, ressaltando que a cadeia produtiva da agricultura gera 15 mil empregos diretos, e o Porto do Açu poderá afetar o abastecimento agrícola em todo o Estado do Rio de Janeiro. “Não comemos cimento, nem bebemos petróleo”, falou.

A palestra contará ainda com a participação do superintendente do Inea, Renê Justen; o sociólogo e cientista político, coordenador de Extensão do CCH/UENF, Hamilton Garcia; o sociólogo, professor da UFF, mestre em Planejamento Urbano e Regional José Luiz Vianna da Cruz; e pelo ambientalista, escritor, diretor da Revista do Meio Ambiente, ganhador do Prêmio Global 500 da ONU, Vilmar Berna.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

“Se a lagoa estava na enfermaria, os últimos 10 anos levaram-na para a UTI!”


 
Ambientalista e pesquisador, o biólogo Guilherme Sardenberg conhece muito bem o ecossistema que se encontra seriamente ameaçado pelo desenvolvimento desordenado da região. Sua tese de mestrado foi sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Imboacica, que engloba a Lagoa Imbocica e todo o seu entorno. Veja a entrevista do biólogo sobre os pontos primordiais em relação ao ecossistema. 


RVS: Existe um tempo mínimo entre uma abertura e outra para que esta seja feita provocando o mínimo de impacto possível para a vida marinha e terrestre?
GS: Muitos anos de discussão e acompanhamento levaram a firmar como intervalo mínimo de tempo aproximadamente 03 anos. Este prazo tem haver com ciclo de vida dos animais (principalmente ictiofauna). A abertura de barra é algo tão impactante para o ecossistema que fica muito difícil de definir o que seria maior ou menor impacto. Há impacto positivo e negativo.

RVS: Quais os benefícios da abertura de barra?
GS: Alterar sistemas ecológicos quase sempre provoca surpresas nos resultados. Atendo-se à abertura de barra, não há qualquer estudo conclusivo sobre os efeitos/resultados que serão alcançados. De fato, estudos conclusivos sobre sistemas tão complexos seriam questionáveis, no entanto, há algumas certezas e diversas suposições: certeza de que as massas d'água do mar e da lagoa serão trocadas, que diversas espécies de peixes e muitos outros animais microscópicos e decompositores morrerão por motivos diferentes, que tantos outros entrarão na lagoa e ainda haverá os que mudarão seu estágio reprodutivo. Das suposições, que as águas poluídas da lagoa e os peixes mortos chegarão ao litoral de Rio das Ostras, que haverá recuo ou avanço das macrófitas como taboas, que haverá melhoria das águas da lagoa – renovam-se as águas, mas, na medida em que o aporte de esgoto continua o mesmo, nos primeiros meses a concentração de poluentes aumenta. É por isso que não há como afirmar, categoricamente, por qual período máximo a lagoa deve permanecer fechada.



RVS: Há previsão de quando a lagoa pode encher novamente?
GS: Não, tem que contar com as chuvas e as contribuições da Lagoa, que agora, em função da construção do vertedouro, diminuíram. O principal tributário da lagoa é o Rio Imboacica. O segundo era o Canal da Peleja! Esse é o motivo de minha indignação com esta obra - ela impede que as águas deste canal contribuam para a Lagoa. Um grande absurdo, um crime!

RVS: Qual a influência do Rio Imboacica, que hoje também encontra-se bastante assoreado e com vazão mínima?
GS: É o principal tributário da Lagoa. Não sei precisar a vazão dele porque não disponho de dados. Cada vez mais ele perde suas características. Como todos os outros rios da região, ele foi retilinizado pelo extinto DNOS. Hoje, vem sofrendo com o avanço das áreas industriais de Rio das Ostras e Macaé.
  


RVS: Em relação ao esgoto, a solução seria a ETE do Mutum. Em que pé está a construção da rede para interligar as casas a estação de tratamento?
GS: A informação que tenho é que a rede coletora de esgoto do Mirante da Lagoa, por exemplo, tem que ser recuperada e invertida, já que ela foi programada para escoar para o lado inverso onde está a ETE Mutum. Algumas redes estão sendo construídas na região do São Marcos.

RVS: E a ETE do Mutum, já está recebendo algum esgoto, já está operando?
GS: Não está funcionando.



RVS: Você acredita que as previsões do professor Chico Esteves de que a lagoa pode virar um grande brejo em 130 anos podem se concretizar com o ritmo de degradação que Macaé vive hoje?
GS: Talvez até em menos tempo. Se a lagoa estava na enfermaria, os últimos 10 anos levaram-na para a UTI! Com a movimentação enorme que está havendo por trás da região do Parque de Tubos, muito desse sedimento vai parar na lagoa, ainda mais que os trabalhos de macrodrenagem aumentaram as galerias que escoam para dentro da lagoa. Toda chuva, é carreamento de sedimento para a Lagoa.

RVS: Qual o maior problema que você vê em relação a lagoa e o que deve ser feito para que ela sobreviva por mais tempo?
GS: O maior problema está fora e distante da Lagoa. Está em salas com ar condicionado. A administração pública é o mal da lagoa. E não é negligência, porque coisas estão sendo feitas. É falta de conhecimento e sinergia. As secretarias não trabalham juntas: veja este exemplo que lhe dei antes sobre as galerias próximas ao Parque de Tubos. A SEMOB realiza a drenagem para evitar alagamentos, mas esta área que contribui para essas galerias são imensas áreas com solo exposto, licenciadas pela SEMA ou INEA. Então, a chuva virá e pode não haver alagamento, mas haverá um maciço assoreamento que, em futuro próximo será determinante para que a lagoa fique mais rasa e diminua sua condição de receber as águas das redondezas.

RVS: Suas considerações finais.
GS: Para finalizar, ninguém tem falado sério quanto à melhoria das condições ecológicas da lagoa, que elenco abaixo: construção das redes coletoras de esgoto e tratamento em estações terciárias; alteração no artigo da Lei 141 - Novo Código de Urbanismo, que manteve, contrariamente ao Plano Diretor, o gabarito na orla em 20 metros, ou 07 andares. Tem que haver menos gente morando na orla da lagoa; proteção total das áreas brejosas no entorno da lagoa, servem, dentre outras coisas, para diminuir os alagamentos, além de ser ecossistema importantíssimo; revegetação das faixas marginais de proteção dos principais tributários - Rio Imboacica e Canal da Peleja e da lagoa onde for possível; recuperação do Canal do Mulambo com plantio mínimo que seja em suas margens; dragagem de alguns pontos da lagoa; e remoção planejada de taboas, pois elas ajudam a assorear a lagoa.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Reserva União vai triplicar área de Mata Atlântica protegida

Área de ampliação abrange quase 30 propriedades particulares inseridas em Casimiro de Abreu



Criada em 1998 para proteger a Mata Atlântica e o mico-leão-dourado, Unidade de Conservação vêm cumprindo muito bem o seu papel 

Erika Enne

Com uma das maiores populações de mico-leão-dourado na Mata Atlântica, a Reserva Biológica União conta hoje com 2.548 hectares de vegetação preservada. No entanto, a unidade de conservação está prestes a ter sua área ampliada para 8.624 hectares. A proposta de ampliação foi um pedido do Ministério do Meio Ambiente, que entendeu a importância estratégia da conservação dessa área, item, inclusive, previsto no plano de manejo da Rebio. “Essa região está inserida na área da Reserva da Biosfera da Serra do Mar e do Mosaico Mico Leão Dourado. É rica em recursos hídricos, em especial pelas bacias dos rios São João, das Ostras e Macaé”, ressaltou o chefe da unidade, Whitson José da Costa.
 
De acordo com ele, a proposta já está em Brasília, aguardando um resultado a qualquer momento. “Cumprimos com todos os trâmites burocráticos. Realizamos uma audiência pública em Casimiro de Abreu, município que abriga praticamente toda a área proposta para ampliação, e recebemos todo o apoio da população”, falou Whitson.

Reserva Biológica União está localizada nas margens da BR-101 e abrange os municípios de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu

A região de ampliação abrange quase 30 propriedades particulares, onde foram consideradas as características ecológicas, da paisagem, a localização das residências e outras benfeitorias, áreas produtivas, assentamentos agrários, além da situação de processos de concessão de pesquisa e lavra de recursos minerais. Ainda corresponde a 113 hectares adquiridos pela Associação do Mico-Leão-Dourado e doados ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para incorporação da Rebio União. “Essa área é fundamental para interligar os fragmentos florestais e já está sendo revegetada com o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica, o que vai permitir a formação de um corredor da biodiversidade, garantindo a manutenção genética das populações da biota local, com destaque para o mico-leão-dourado”, ressaltou Whitson.

 Reserva abriga nascentes importantes para as bacias hidrográficas de Macaé, das Ostras e São João

Além dos ganhos ambientais, o chefe da unidade lembrou que essa ampliação vai trazer outros benefícios, como a prestação dos serviços ambientais, já que dentro da Reserva estão nascentes importantes para as bacias hidrográficas do São João, das Ostras e Macaé. “O Rio Purgatório nasce aqui dentro e deságua do rio Macaé, um pouco acima da captação de água  da Cedae, desempenhando papel importante na ,manutenção do nível e qualidade do recurso hídrico que abastece a região. A Reserva ainda abriga nascentes dos rios Dourado e Iriry. O primeiro flui para o rio São João e o segundo para o rio das Ostras”, informou Whitson, ressaltando ainda os ganhos econômicos, principalmente para Casimiro de Abreu, que pode incrementar o valor do ICMS Verde.

  
Lenha, eucalipto e sua recuperação

As terras que deram origem à Reserva Biológica União são as mesmas que integravam o imóvel rural “Fazenda União”, cujo proprietário no século XIX era o Sr. Joaquim Luiz Pereira de Souza, pai de Washington Luis, que foi Presidente da República do Brasil entre 1926 e 30. A área foi propriedade também da Cia Inglesa “The Leopoldina Railway”, que a adquiriu em 1939 para fornecer lenha nativa pra as antigas locomotivas movidas a vapor. Com esse mesmo objetivo foram plantados eucaliptos em grandes áreas da fazenda. 

Mata da Rebio União abastecia as antigas locomotivas movidas a lenha

Posteriormente, na década de 50, devido a grave crise financeira que atravessava, a Cia Inglesa passou para o domínio brasileiro. Para operacionalizar o transporte ferroviário sob o domínio estatal, foi criada em 1957 a Rede Ferroviária Federal S\A (R.F.F.S.\A), que ficou responsável pela Fazenda União. Com a mudança na fonte de energia que movia as locomotivas, de vapor par óleo combustível, os plantios de eucaliptos passaram a ter como objetivo a produção de dormentes, permanecendo assim até 1996. “Isso explica a presença de mais de 200 hectares de eucalipto no interior da Rebio. No entanto, temos uma proposta de retirada controlada dessas árvores, através de leilões que serão divididos por lotes. Nossa expectativa é que esse eucalipto comece a ser removido já no próximo ano”, falou Whitson.

Com o processo de privatização da R.F.F.S\A, iniciado em 1996 pelo Governo Federal, a Fazenda União foi colocada a venda, gerando uma grande mobilização da comunidade científica, ONG’s, instituições públicas ambientais, além de ambientalistas de todo o mundo para que a área fosse protegida em forma de Unidade de Conservação. Até que em 22 de abril de 1998, o vice-presidente da República, Marco Antônio de Olibveita Maciel, assinou o decreto de criação da Reserva Biológica União. “Apesar da degradação da área, pesquisas identificaram que a região ainda abrigava uma grande área de Mata Atlântica preservada e com condições ideais para abrigar o mico-leão-dourado. Foi quando a Associação do Mico-Leão-Dourado deu início a translocação do mico”, falou Whitson.

Fauna, flora e as pesquisas científicas

Desde a criação da UC, a vegetação da região vem se recuperando. Áreas de pastagens já apresentam florestas, bem como os sub-bosques que começam a se formar sob os eucaliptos. A ação de caçadores também vem reduzindo, bem como as incidências de queimadas. Isso está fazendo com que a fauna e flora retornem para seu habitat natural. “Hoje, quando fazemos as rondas pela mata, vemos com mais intensidade as pegadas de muitos animais. O palmito Jussara também está voltando”, falou Whitson. 

Rebio União abriga uma das maiores populações de mico-leão-dourado, com cerca de 300 indivíduos

De acordo com o chefe, o último levantamento realizado em 2006 mostra que a população de mico era de 220 indivíduos, com taxa de crescimento de 20% ao ano. “Acredito que conseguimos manter essa taxa, com isso já devemos ter atingido cerca de 300 indivíduos, uma das maiores populações silvestres de mico-leão, praticamente igualando a Reserva Biológica Poço das Antas, duas UC do estado que abrigam esta espécie ameaçada de extinção”, observou.

Trilha Interpretariva possui um mirante de onde é possível admirar a bela Mata Atlântica preservada e por sorte cruzar com um mico-leão-dourado
Entre outras espécies encontradas na reserva, destacam-se a preguiça-de-coleira, a lontra, a jaguatirica e a onça parda, todas ameaçadas de extinção. Outros animais importantes para o equilibro ecológico também habitam a mata, como a paca, capivara, porco-do-mato, cotia, tatu, quati, gambá, cachorro-do-mato, macaco-prego e o tamanduá-mirim, além de grande variedade de peixes, répteis, anfíbios e insetos. A reserva também abriga uma avifauna expressiva, com 225 espécies identificadas. Destas, 18 são consideradas ameaçadas de extinção no estado do Rio e 28 são endêmicas da Mata Atlântica. “Encontramos tucanos, arapongas, entre outros”, falou.

Entre a flora, estudos apontaram a Rebio União como a maior riqueza e diversidade vegetal entre todos os remanescentes estudados na Mata Atlântica. Já foram registradas cerca de 250 espécies arbóreas, com destaque para o Jequitibá, Massaranduba, Sapucaia e o Palmito Jussara, além da ocorrência de bromélias e orquídeas, espécie sensível a qualquer alteração no ambiente.  

Além disso, Whitson ressaltou que entre todas as Reservas Biológicas do país, a Rebio União é a campeã em pesquisa científica, sendo mais de 50 em andamento. E entre todas as unidades de conservação no Brasil (que mais de 3 mil), a União está em 13º em produção científica. “Isso é gratificante para nós, pois mostra o reconhecimento do trabalho feito dentro da reserva”, falou o chefe, informando ainda que as instalações da antiga Fazenda União foram reformas e hoje servem de alojamentos para pesquisadores ou se transformaram em espaços utilizados pelos funcionários e visitantes, como o Centro de Convivência, a recepção e a casa da administração.