quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Macaé ganha Ecoponto para o lixo reciclável



É galera, agora não tem mais desculpas para deixar de separar nas suas casas o lixo que pode ser reciclado. Isso porque Macaé ganhou um Ecoponto, um espaço para a entrega voluntária dos resíduos sólidos que funciona no bairro Ajuda, na Fazendinha Coqueiral, das 8h às 22h.
 
Garrafas pet, latinhas de alumínio, caixinha de leite, pote de maionese, lata de milho e sardinha, garrafas de vidro, jornais, revistas, potes de iogurte, pregos, pedaços de cano e papel de alumínio são alguns dos materiais que podem ser reciclados, bem como o óleo usado de cozinha, que deve ser armazenado em algum pote ou garrafa e levado para o Ecoponto. 

Além dos ganhos ambientais, o Ecoponto vai gerar renda para muitos catadores de lixo que atuam em Macaé. Vamos exercer nossa cidadania e separar o lixo dentro de nossas casas.


Lá em casa, já providenciei os latões de cores diferentes para plástico, papel, vidro e latinha. Antes de armazenar os resíduos no latão, dê uma lavada para não atrair ratos e moscas. Quando o saco de lixo encher é só colocar no carro e deixar no Ecoponto.




 
A gente não precisa ir para longe para protestar contra os desastres ambientais, as mortes das baleias e das tartarugas marinhas, mas podemos fazer o mínimo possível dentro de nossas casas. Se cada um fizer a sua parte, vamos deixar de jogar na natureza um lixo que pode ser reaproveitado por outras pessoas, e ainda gerar emprego e renda para quem precisa.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Onde o desenvolvimento esqueceu de ser sustentável

Restinga de São João da Barra corre o risco de desaparecer para dar a lugar ao Complexo Industrial-Portuário do Açu


Região é uma das poucas áreas de restinga fora de unidade de 
conservação que estão preservadas no litoral brasileiro


Sob o argumento de promover o crescimento da região Norte Fluminense, empresários e gestores públicos estão promovendo a destruição de uma das últimas áreas de restinga do país. Trata-se de uma região com mais de 7 mil hectares no município de São João da Barra, destinada pelo governo municipal e estadual para a criação do Distrito Industrial, que será gerido pela Codin (órgão estadual), mas dotado de infraestrutura com investimentos privados do grupo EBX.

A retirada da vegetação para as obras de infraestrutura

Segundo representantes do Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários da Associação dos Geógrafos Brasileiros, trata-se de uma região única e socioambientalmente diferenciada, composta por um complexo de lagunas, charcos, pequenos córregos, estuários, brejos costeiros, vegetação arbustiva fixadora de dunas, formações geológicas sedimentares, formações herbáceas e graminóides associadas a faixa de praia, além de
um mosaico de comunidades rurais, pescadores artesanais, agricultores familiares, posseiros e pequenos comerciantes.

Eduardo e Paulo falam sobre os irreversíveis impactos sociais e ambientais que o porto vai provocar na região


 
Próximo ao Rio + 20 estamos licenciando a maior obra portuária das Américas em uma área de restinga, que abriga comunidades ecológicas marcadas pela singularidade botânica e faunística, classificadas como de extremo interesse para a conservação da biodiversidade, além de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, que poderão desaparecer em função da redução de seu habitat natural”, falou Eduardo Barcelos, da AGB.

Ele explicou que a associação elaborou um relatório sobre os impactos que o Complexo Industrial-Portuário do Açu vai provocar sobre o meio ambiente e as comunidades estabelecidas há centenas de anos na região, já que o empreendimento prevê a desapropriação de mais de 400 famílias que vivem no 5º distrito. “Durante 15 dias fizemos um amplo trabalho de campo e entendemos que a restinga de São João da Barra é uma das últimas existentes fora de unidades de conservação que se manteve preservada durante todos esses anos em função de sua ocupação e a relação das comunidades com a terra. A grande maioria são pequenos agricultores familiares, que provocam um impacto infinitamente menor do que uma siderúrgica ou uma cimenteira”, argumentou Eduardo, observando que no próprio relatório ambiental dos empreendimentos está explicitado o alto nível de preservação e a baixa ação antrópica na região.

De acordo com Paulo Alentejano, o CIPA vai trazer consequências irreversíveis ao ecossistema terrestre e marinho. “Para as obras de terraplanagem e aterramento, uma draga retira areia do fundo do mar e o deposita sobre a restinga, o que vai contribuir em curto prazo para o processo de erosão e assoreamento dos corpos hídricos, além de já estar provocando impactos na biota marinha, com reflexos diretos na pesca. A região é o 3º maior produtor de pescado do estado e as obras vão afetar diretamente 400 famílias que estão tendo seus modos de vida inviabilizados”, completou Alentejano, lembrando ainda que estão previstos dois ‘bota-foras’ no fundo do mar. “Estes chamados ‘bota-foras’ são grandes depósitos no fundo do mar para receber os resíduos das obras de terraplanagem”, explicou.




Draga retirando areia do fundo do mar para aumentar o calado 
e ainda servir para as obras de aterramento do porto

Ele observou que os próprios RIMAs dos empreendimentos confirmam tal impacto e elencam outros gravíssimos, como a contaminação do lençol freático, alteração na qualidade do ar e do solo, alteração do escoamento hídrico superficial, alterações nas atividades de desova de tartarugas marinhas, introdução de espécies exóticas trazidas nos cascos dos navios, contaminação da biota aquática pelo efeito residual das tintas antiincrustantes das embarcações, riscos de derramamento de óleo, redução da área de pesca, afugentamento de peixes, entre outros.

 
 Tartaruga encontrada pela metade na Praia do Açu, além de esqueleto de animais entre a vegetação degradada

No relatório do AGB, os técnicos ainda questionam a fragmentação do licenciamento ambiental do CIPA, o que não considera a totalidade dos impactos. “Isso gera inconsistências gravíssimas e uma notória incoerência no licenciamento. A avaliação do CIPA foi feita de forma tendenciosa, contrária ao disposto no art. 7 da Resolução CONAMA 001\1986, priorizando excessivamente o meio físico e os aspectos botânicos e faunísticos, e em boa medida, ocultado os aspectos sociológicos, antropológicos, culturais e históricos”, falou Eduardo.

O relatório da AGB ainda questionou as divergências nos RIMAs dos empreendimentos que já foram ou estão sendo licenciados (Siderúrgica, Unidade de Construção Naval, duas termelétricas e Unidade de Tratamento de Petróleo). “Eles destacam a restinga de São João da Barra como de extrema singularidade e ao mesmo tempo falam em retirada dessa vegetação. Também apontam impactos irreversíveis, mas mesmo assim apontam ações de recuperação ambiental”, falou.

 
Os RIMAs mostram que nos locais que serão diretamente afetados existem áreas alagáveis que servem de abrigo, refúgio, alimentação e reprodução das aves, incluindo espécies em extinção ou endêmicas. “A região ainda funciona com rota migratória para algumas espécies, principalmente os misticetos, ocupando sazonalmente a área; e também é utilizada como área de alimentação, em função da alta produtividade associada a sistemas costeiros e à proximidade de rios que fornecem uma alta disponibilidade de presas, sendo dessa forma ocupada sazonalmente por algumas espécies; o local também serve como habitat fixo para pequenos cetáceos, com distribuição mais restrita, como é o caso da toninha e do golfinho de dentes rugosos”, aponta o RIMA.


Além disso, os próprios relatórios mostram que os impactos vão atingir espécies da fauna consideradas relevantes, como a perereca-de-capacete, perereca-verde e rã-manteiga, lagarto-do-rabo-verde (incluído na lista de espécies da fauna brasileira ameaçada de extinção), o cágado amarelo, jacaré-do-papo-amarelo e lagartixa-da-areia (incluídos na lista da fauna ameaçada do Estado do Rio de Janeiro). No grupo das serpentes, foram registradas espécies de interesse médico, como corre-campo e jararaca, que podem desaparecer.

Outras espécies também poderão ser ameaçadas como sabiá-da-praia, criticamente ameaçado no Estado do Rio de Janeiro; a saíra-sapucaia, endêmica da Mata Atlântica; a lontra, listada como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção; e Parides ascanius, espécie de borboleta ameaçada de extinção. “Não são raros os casos de tartarugas marinhas que aparecem mortas. Recentemente, apareceram duas mortas com o casco quebrado”, falou.



Além dos impactos ambientais, o vice-presidente da Associação dos Produtores Rurais e Imóveis de São João da Barra (Asprim), Rodrigo Silva Santos, lembra dos problemas sociais que serão gerados. “A justificativa da prefeitura, do governo do estado e da EBX para a implantação do CIPA no 5º distrito é a localização e aproveitamento das potencialidades locais e regionais, além da pouca aptidão agrícola, devido às características físicas dos solos. Eles vêm aqui, numa área que sempre teve como característica a pesca e a agricultura, e têm a cara de pau de dizer que nossas terras são improdutivas. Nos estranha ouvir isso quando produzimos mensalmente 300 toneladas de maxixe e quiabo, além de ter a segunda maior produção de abacaxi do estado, com 4,6 milhões de unidades anuais”, falou Rodrigo, ressaltando que a cadeia produtiva da agricultura gera 15 mil empregos diretos, e o empreendimento poderá afetar o abastecimento agrícola em todo o Estado do Rio de Janeiro.

Rodrigo observa que a cadeia produtiva da agricultura gera 15 mil empregos 
diretos e o complexo pode afetar o abastecimento agrícola no estado

Ele ainda aponta irregularidades no processo de desapropriação e realocação das famílias que estão sendo atingidas. “A avaliação que eles fazem sobre o valor das terras e benfeitorias são feitas em papel de pão em um ato de total desrespeito com o agricultor. Muitos já foram desapropriados, mas ainda não receberam duas indenizações”, falou Rodrigo, ressaltando ainda que a EBX ainda não possui a documentação do Palacete, local para onde as famílias estão sendo levadas. “Esta é uma área arrendada que ainda está na justiça. Ou seja, estamos sendo retirados de nossas terras para sermos transferidos para um local que não é nosso e onde nosso futuro será incerto. Não somos contra o Porto e nem contra o desenvolvimento, mas queremos ter o direito de produzir em nossas terras, conseguidas com muito trabalho e suor. Nós não vamos ceder, pois nossa cultura e nossa vida estão dentro do 5º distrito”.

O deputado Marcelo Freixo, que presidiu a última audiência pública que aconteceu na Alerj, propôs que as desapropriações devem ser interrompidas até que o estado pague as indenizações que os proprietários têm direito. “A ideia de desenvolvimento no Estado do Rio é diferente. O Porto do Açu, a CSA, o Arco Metropolitano são escolhas políticas. Não fiz essa audiência para mudar a concepção de economia do governo. Mas o respeito a lei independe da vontade do governo. O art. 265 da Constituição Estadual prevê o pagamento prévio da indenização. A lei é clara e esta não está sendo cumprida e enquanto ela não é cumprida, pedimos que o estado cesse os processos de desapropriação”, argumentou Freixo.

Deputado Marcelo Freixo pediu a paralisação das desapropriações
até que o Estado do Rio cumpra com a legislação

Presente a audiência, o secretário de Desenvolvimento do Estado, Júlio Bueno, se posicionou contrário a sugestão de Freixo. “São R$ 20 milhões já liberados, só para que vocês tenham uma ideia da ordem de grandeza de que estamos falando”, falou Bueno.

No RIMA, o grupo EBX aponta como alternativa para o impacto na fauna o resgate e realocação dos animais antes que a área seja suprimida. Também aponta soluções para minimizar os impactos na qualidade da água, do ar e do solo, bem como no que se refere as desapropriações. “Eles apresentaram propostas, criação de grupos de trabalho, monitoramento e gerenciamento. Mas em momento algum apresentaram soluções, apenas projeções que nunca vão se concretizar”, falou Rodrigo.

Barrados na Cidade X


Produtores rurais de São João da Barra estão sendo pressionados a sair de suas propriedades centenárias para a criação do distrito industrial do Super Porto do Açu

 
São cerca de 1.500 famílias que vivem da terra, plantando aipim, batata, couve, alface, tomate, coco, jiló, laranja, abacaxi, limão, entre outros produtos que abastecem parte do mercado de municípios vizinhos, como Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras, bem como os balneários de Atafona e Grussaí. Pequenos agricultores estabelecidos há mais de 200 anos na região do Açu, abrangendo o 4º e o 5º distritos de São João da Barra, nas localidades de Campo da Praia, Tombado, Pipeiras, Água Preta, Mato Escuro, Cajueiro e Azeitona.

Pessoas humildes que sobrevivem da agricultura familiar e convivem com a incerteza de seus futuros, pois boa parte dessa área, que corresponde a aproximadamente 1/3 de todo o território de São João da Barra, está sendo desapropriada para a construção do Super Porto do Açu (90 km²) e do distrito industrial (70 km²), além da chamada “Cidade X”, idealizada para acomodar até 250 mil pessoas, população estimada para São João da Barra em 2025 quando o porto estiver operando em pleno vapor.

O Porto do Açu é um empreendimento logístico da empresa LLX Logística S.A., que faz parte de um projeto maior do grupo EBX, controlado por Eike Batista, e prevê um modelo de condomínio industrial-logístico sem precedentes no País. A previsão é que lá seja instalada uma siderúrgica, duas cimenteiras, um polo metal-mecânico, usina termelétrica e pelo menos quatro usinas para pelotização de minério, que chegará ao porto por um mineroduto de 525 km de extensão que passa por 32 municípios em Minas e no Rio.


 
Alterações

Andando pela região é possível ver placas que já determinam a localização de alguns empreendimentos, como siderúrgica e construção naval. Se todas as negociações anunciadas se confirmarem, serão investidos mais de R$ 40 bilhões na região, alterando radicalmente o perfil demográfico, social e principalmente econômico de São João da Barra, cidade que hoje conta com 30 mil habitantes.
 
Sob a justificativa de minimizar os impactos que os novos empreendimentos vão provocar, a secretaria estadual do Ambiente reservou uma das fazendas adquiridas pela holding EBX para transformá-la em reserva ecológica. Para compensar, a prefeitura e o governo do Estado decidiram criar um distrito industrial e, para isso, a Codin (Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do Rio de Janeiro) está desapropriando uma área de 70 Km².


E é aí que começa o problema: se por um lado está sendo articulado o crescimento econômico e a preservação ambiental, por outro não coloca o ser humano como peça do tripé da sustentabilidade (o social, o ambiental e o econômico).  Nessa região vivem milhares de produtores rurais que sustentam suas famílias com o que plantam ali e não querem deixar o local onde nasceram e cultivam para sua sobrevivência.

Eles, que viveram décadas em uma região carente de recursos, agora querem participar da “festa”, mas desde março, quando começaram a ser cumpridos os mandados de posse mediante desapropriação, os moradores dormem com medo de serem expulsos ao amanhecer.

Produtores convivem com a insegurança

“Tem dias que a gente nem dorme. Ontem mesmo levantei uma hora e não dormi mais. Meu marido diz que só sai daqui morto”, falou a produtora Maria Ribeiro Machado, 67 anos, nascida e criada no local. Ela tem uma pequena propriedade com cerca de 30 alqueires, onde vive com o marido e filho. De um lado uma bela plantação de aipim. Do outro, pés de coco. Ao fundo, criação de porcos, algumas cabeças de gado e mais cultivos variados.


A casa principal ainda mantém sua arquitetura tradicional, com figuras que adornam a parede. Próximo, uma cobertura abriga o maquinário da fazenda. A renda da família vem de sua própria terra, onde também produz queijo, vendido para estabelecimentos de Grussaí e Atafona. “Essa casa vem dos meus bisavôs”, falou Dona Maria, temendo ter sua terra desapropriada.


Assim como Dona Maria, Valdeci da Silva Almeida nasceu na região e também vive do que planta. O sítio é da família e é fonte de renda de doze irmãos e sua mãe, que vive na casa vizinha, junto com outro filho doente. Valdeci conta que suas terras estão localizadas no traçado da linha elétrica e terão que ser desapropriadas por conta disso. “Se eles tiram a gente daqui, o que vamos fazer? Eles não podem beneficiar quem vem de fora, enquanto nós, que moramos aqui, eles querem enxotar”, desabafou Valdeci, que nunca exerceu outro ofício senão o de lavrador e não quer deixar a profissão. “Nossa caneta de trabalho é a enxada. Se não queremos vender nossas terras, eles têm que respeitar”, complementou.



O produtor rural e uma das lideranças da Associação dos Produtores Rurais e Moradores do 5º distrito (Asprim), Rodrigo Silva Santos ressaltou o medo que os agricultores têm de perder suas terras e o sustento das famílias. Ele conta que tudo começou em 2007, quando a prefeitura revisou o zoneamento de São João da Barra, transformando o 4º e 5º distritos de área rural para industrial, permitindo que o poder público desaproprie a área para fins de interesse coletivo. “No dia 31 de dezembro de 2008, no apagar das luzes, a prefeitura publicou um decreto de desapropriação sem consulta popular ou uma audiência pública”, criticou Rodrigo.

As desapropriações, que ainda não foram pagas em sua maioria e nem mesmo negociadas com todos, só alguns poucos, estão sendo feitas pelo Governo do Estado,  através da Codin, que no ano passado chegou a abrir um posto em Água Preta. A empresa confirmou a área de desapropriação de 70 km², que abrange as localidades de Água Preta, Salgado, Açu, Campo da Praia, Cajueiro. A Codin garante que as posses das propriedades vão para o estado, e que o Distrito Industrial é gerido pela companhia e não se relaciona com as obras da iniciativa privada do Porto do Açu. “Esta foi mais uma manobra do governo para legitimar a venda ilegal de parte da cidade de São João da Barra, sem sequer pensar que aqui vivem pessoas”, falou João.

Resistência

Para tentar resistir, os produtores se uniram através da Asprim, que mantém uma sede onde acontecem reuniões regulares. Rodrigo frisou que a população não é contra a instalação do Porto do Açu, pois ela quer fazer parte do desenvolvimento que o empreendimento vai promover. Mas os produtores que vivem da terra e estão estabelecidos há anos no local, esses são contrários, sim, às desapropriações que estão acontecendo em suas terras para a criação do Distrito Industrial. “Nós não somos contra o porto, só não queremos deixar nossas casas. Ninguém aqui depende de prefeitura para sobreviver, pois vivemos do nosso trabalho e eles estão forçando as pessoas a deixarem seus sustentos, suas vidas. E para ir para onde? Para fazer o que?”, desabafou Rodrigo, criticando também a falta de diálogo da empresa com a comunidade.


 João Batista, outra liderança comunitária, ressaltou que os produtores já tiveram duas conquistas. Uma delas foi garantir, através da Câmara de Vereadores, o tombamento socioambiental de uma área do 5º distrito que equivale a sete mil campos de futebol. Outra foi a reintegração de posse concedida pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, permitindo que uma proprietária voltasse para a fazenda de quase 30 hectares. “Eles dizem que nossas terras são improdutivas, mas se você andar por aí, você vai ver que isso é mentira. Todos aqui vivem dessa terra que dá de tudo que a gente planta”, garantiu.



Mananciais sob pressão




Uma Chance para a Mata Atlântica

terça-feira, 28 de junho de 2011

A arte que vem da natureza



Artesãos de Silva Jardim utilizam o bambu, cipó e a palha da taboa coletados na mata da própria região

Aliar criatividade, produtividade e sustentabilidade. Unindo esses conceitos a uma infinidade de ideias, o artesão Thiago Victer utiliza o bambu para produzir o artesanato que encanta pela simplicidade e beleza das formas que dá a móveis, luminárias, incensários, quadros, biombos e outros objetos de decoração.



Natural de Niterói, mas apaixonado por Aldeia Velha, aos 19 anos o artesão deixou a cidade grande para viver na tranqüilidade da serra. O dom para o artesanato, ele descobriu em Aldeia, onde passou a trabalhar com a arte do bambu. “Hoje não me vejo fazendo outra coisa”, falou.

O trabalho começa em meio a floresta, na seleção do bambu e a época certa de coletar. A matéria-prima é extraída dos bambuzais da própria região. “A maior parte do bambu que utilizo vem de Lumiar”, falou Thiago, que começa a cultivar a planta em sua propriedade.

Depois de coletado, vem a etapa de tratamento da planta, que recebe produtos para proteção contra cupim e aumento da durabilidade. Aí sim, o bambu vira lindas peças, que são vendidas na hora ou por encomenda. São camas, estantes, sofás ou o que o cliente quiser.

No começo, Thiago chegou a abrir uma loja no Centro de Aldeia, onde deu visibilidade ao trabalho que faz. Hoje, ele conseguiu abrir seu próprio atelier e mantém um camping e bar para complementar a renda. O artesão conta que a comercialização das peças ainda é complicada. “Eu já cheguei a fazer consignação com algumas lojas, mas é difícil, pois as pessoas ainda não dão valor ao artesanato”, conta.



Embora a vida de artesão seja difícil, Thiago garante que não deixa mais Aldeia Velha, onde sempre manteve suas raízes. “Aqui eu me encontrei e descobri uma vida mais saudável. Meu avô nasceu aqui e sempre passei minhas férias em Aldeia, até que decidi morar por aqui, onde sou apaixonado”, falou Thiago, ressaltando as belezas naturais de Aldeia Velha, como rios, cachoeiras, trilhas pela mata atlântica, além da hospitalidade da população.

Saindo do distrito de Aldeia Velha e indo até o Centro de Silva Jardim, encontramos o artesão Aristótes José Conema. Há mais de 20 anos ele produz artigos com a palha da taboa, bambu e cipó. São cestos, vassouras, esteiras, porta-retratos e luminárias traçadas com a matéria-prima coletada mata da região.

Seu Aristótes, que trabalhou como servente, se aposentou e passou a dedicar seu tempo a produção do artesanato, talento que descobriu aos 55 anos. A arte, ele conta que aprendeu com sua antiga senhora. “Eu ficava observando ela fazer os objetos e acabei aprendendo”, conta.


Seu Aristótes vendia seus produtos de porta em porta, mas nunca conseguiu viver só do artesanato. “É um trabalho que não é muito reconhecido e sem dinheiro para investir fica ainda mais difícil. Se tivesse bastante encomenda e incentivo, talvez fosse mais fácil”, conta.

Aos 74 anos, ele já não produz como antigamente, pois “a vista já não aguenta mais e não consigo mais entrar na mata para buscar a matéria-prima”, conta seu Aristótes, que já tentou passar seus conhecimentos a frente, mas diz que os jovens não têm mais interesse nessas coisas.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Um passivo que está sendo remediado em Silva Jardim


Lixão do Goiabal foi desativado há pouco mais de um ano. Agora, técnicos buscam soluções para a recuperação da área



Desde março do ano passado que o lixão de Silva Jardim foi desativado. Localizado no Goiabal, em uma área isolada e rodeada por pastagens, o lixão representava um grande passivo ambiental que perdurou por aproximadamente dez anos. Durante todo esse tempo, o lixão funcionou sem nenhum tipo de cuidado. Somente em 2010 é que a prefeitura despertou para a necessidade de dar uma correta destinação para as 17 toneladas de resíduos gerados diariamente na cidade. Hoje, esse volume é despejado em um aterro sanitário particular em São Pedro da Aldeia.

A iniciativa da prefeitura já rendeu resultados. A desativação do lixão foi um dos pontos determinantes para que o município pulasse da 4ª para a 1ª colocação no ranking do ICMS Verde, sendo a cidade que mais arrecada o imposto no Estado do Rio. Em 2010, o repasse foi de R$2,9 milhões. Neste ano, saltamos para a cifra de R$5,2 milhões.

Embora haja críticas sobre o custo para despejar o lixo no aterro, os ganhos ambientais, sociais e de saúde são incalculáveis e o aumento no repasse do ICMS vem conseguindo cobrir tal custo. Hoje a área do lixão no Goiabal já não tem mais aquele mau cheiro e insetos, embora ainda abrigue certo volume de lixo.

Aliás, essa é outra etapa que a prefeitura terá que assumir: a remediação daquela área. Um trabalho difícil, já que foram dez anos de despejo contínuo de resíduos orgânicos e sólidos, lançados a céu aberto e sem nenhum tipo de tratamento, gerando o chorume, principal responsável pela contaminação do solo, do lençol freático e dos mananciais (rios, córregos e lagos) da região. O chorume pode perdurar por décadas mesmo após o encerramento do lixão, exigindo ações corretivas durante vários anos com o objetivo de remediar a contaminação.

Por outro lado, a prefeitura vem conseguindo recuperar a área onde funcionou o antigo lixão em Cidade Nova. Este funcionou por muitos anos, até que em 2000, com o crescimento do município, o lixão foi transferido para o Goiabal. Afinal, o lixão já representava uma ameaça para a comunidade que começava a se formar no bairro. 



Na época, montanhas de lixo dominavam a paisagem. Mas hoje, com o projeto de recuperação e ações de plantio, a área começa a ser encampada pela vegetação. Quem anda pelo local, nem imagina que ali existiam montanhas de lixo. A intenção da prefeitura é continuar reflorestando o local e transformá-lo num parque ecológico, onde poderão ser desenvolvidas ações de educação ambiental com as comunidades.

Erika Enne