terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Reserva União vai triplicar área de Mata Atlântica protegida

Área de ampliação abrange quase 30 propriedades particulares inseridas em Casimiro de Abreu



Criada em 1998 para proteger a Mata Atlântica e o mico-leão-dourado, Unidade de Conservação vêm cumprindo muito bem o seu papel 

Erika Enne

Com uma das maiores populações de mico-leão-dourado na Mata Atlântica, a Reserva Biológica União conta hoje com 2.548 hectares de vegetação preservada. No entanto, a unidade de conservação está prestes a ter sua área ampliada para 8.624 hectares. A proposta de ampliação foi um pedido do Ministério do Meio Ambiente, que entendeu a importância estratégia da conservação dessa área, item, inclusive, previsto no plano de manejo da Rebio. “Essa região está inserida na área da Reserva da Biosfera da Serra do Mar e do Mosaico Mico Leão Dourado. É rica em recursos hídricos, em especial pelas bacias dos rios São João, das Ostras e Macaé”, ressaltou o chefe da unidade, Whitson José da Costa.
 
De acordo com ele, a proposta já está em Brasília, aguardando um resultado a qualquer momento. “Cumprimos com todos os trâmites burocráticos. Realizamos uma audiência pública em Casimiro de Abreu, município que abriga praticamente toda a área proposta para ampliação, e recebemos todo o apoio da população”, falou Whitson.

Reserva Biológica União está localizada nas margens da BR-101 e abrange os municípios de Macaé, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu

A região de ampliação abrange quase 30 propriedades particulares, onde foram consideradas as características ecológicas, da paisagem, a localização das residências e outras benfeitorias, áreas produtivas, assentamentos agrários, além da situação de processos de concessão de pesquisa e lavra de recursos minerais. Ainda corresponde a 113 hectares adquiridos pela Associação do Mico-Leão-Dourado e doados ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para incorporação da Rebio União. “Essa área é fundamental para interligar os fragmentos florestais e já está sendo revegetada com o plantio de mudas nativas da Mata Atlântica, o que vai permitir a formação de um corredor da biodiversidade, garantindo a manutenção genética das populações da biota local, com destaque para o mico-leão-dourado”, ressaltou Whitson.

 Reserva abriga nascentes importantes para as bacias hidrográficas de Macaé, das Ostras e São João

Além dos ganhos ambientais, o chefe da unidade lembrou que essa ampliação vai trazer outros benefícios, como a prestação dos serviços ambientais, já que dentro da Reserva estão nascentes importantes para as bacias hidrográficas do São João, das Ostras e Macaé. “O Rio Purgatório nasce aqui dentro e deságua do rio Macaé, um pouco acima da captação de água  da Cedae, desempenhando papel importante na ,manutenção do nível e qualidade do recurso hídrico que abastece a região. A Reserva ainda abriga nascentes dos rios Dourado e Iriry. O primeiro flui para o rio São João e o segundo para o rio das Ostras”, informou Whitson, ressaltando ainda os ganhos econômicos, principalmente para Casimiro de Abreu, que pode incrementar o valor do ICMS Verde.

  
Lenha, eucalipto e sua recuperação

As terras que deram origem à Reserva Biológica União são as mesmas que integravam o imóvel rural “Fazenda União”, cujo proprietário no século XIX era o Sr. Joaquim Luiz Pereira de Souza, pai de Washington Luis, que foi Presidente da República do Brasil entre 1926 e 30. A área foi propriedade também da Cia Inglesa “The Leopoldina Railway”, que a adquiriu em 1939 para fornecer lenha nativa pra as antigas locomotivas movidas a vapor. Com esse mesmo objetivo foram plantados eucaliptos em grandes áreas da fazenda. 

Mata da Rebio União abastecia as antigas locomotivas movidas a lenha

Posteriormente, na década de 50, devido a grave crise financeira que atravessava, a Cia Inglesa passou para o domínio brasileiro. Para operacionalizar o transporte ferroviário sob o domínio estatal, foi criada em 1957 a Rede Ferroviária Federal S\A (R.F.F.S.\A), que ficou responsável pela Fazenda União. Com a mudança na fonte de energia que movia as locomotivas, de vapor par óleo combustível, os plantios de eucaliptos passaram a ter como objetivo a produção de dormentes, permanecendo assim até 1996. “Isso explica a presença de mais de 200 hectares de eucalipto no interior da Rebio. No entanto, temos uma proposta de retirada controlada dessas árvores, através de leilões que serão divididos por lotes. Nossa expectativa é que esse eucalipto comece a ser removido já no próximo ano”, falou Whitson.

Com o processo de privatização da R.F.F.S\A, iniciado em 1996 pelo Governo Federal, a Fazenda União foi colocada a venda, gerando uma grande mobilização da comunidade científica, ONG’s, instituições públicas ambientais, além de ambientalistas de todo o mundo para que a área fosse protegida em forma de Unidade de Conservação. Até que em 22 de abril de 1998, o vice-presidente da República, Marco Antônio de Olibveita Maciel, assinou o decreto de criação da Reserva Biológica União. “Apesar da degradação da área, pesquisas identificaram que a região ainda abrigava uma grande área de Mata Atlântica preservada e com condições ideais para abrigar o mico-leão-dourado. Foi quando a Associação do Mico-Leão-Dourado deu início a translocação do mico”, falou Whitson.

Fauna, flora e as pesquisas científicas

Desde a criação da UC, a vegetação da região vem se recuperando. Áreas de pastagens já apresentam florestas, bem como os sub-bosques que começam a se formar sob os eucaliptos. A ação de caçadores também vem reduzindo, bem como as incidências de queimadas. Isso está fazendo com que a fauna e flora retornem para seu habitat natural. “Hoje, quando fazemos as rondas pela mata, vemos com mais intensidade as pegadas de muitos animais. O palmito Jussara também está voltando”, falou Whitson. 

Rebio União abriga uma das maiores populações de mico-leão-dourado, com cerca de 300 indivíduos

De acordo com o chefe, o último levantamento realizado em 2006 mostra que a população de mico era de 220 indivíduos, com taxa de crescimento de 20% ao ano. “Acredito que conseguimos manter essa taxa, com isso já devemos ter atingido cerca de 300 indivíduos, uma das maiores populações silvestres de mico-leão, praticamente igualando a Reserva Biológica Poço das Antas, duas UC do estado que abrigam esta espécie ameaçada de extinção”, observou.

Trilha Interpretariva possui um mirante de onde é possível admirar a bela Mata Atlântica preservada e por sorte cruzar com um mico-leão-dourado
Entre outras espécies encontradas na reserva, destacam-se a preguiça-de-coleira, a lontra, a jaguatirica e a onça parda, todas ameaçadas de extinção. Outros animais importantes para o equilibro ecológico também habitam a mata, como a paca, capivara, porco-do-mato, cotia, tatu, quati, gambá, cachorro-do-mato, macaco-prego e o tamanduá-mirim, além de grande variedade de peixes, répteis, anfíbios e insetos. A reserva também abriga uma avifauna expressiva, com 225 espécies identificadas. Destas, 18 são consideradas ameaçadas de extinção no estado do Rio e 28 são endêmicas da Mata Atlântica. “Encontramos tucanos, arapongas, entre outros”, falou.

Entre a flora, estudos apontaram a Rebio União como a maior riqueza e diversidade vegetal entre todos os remanescentes estudados na Mata Atlântica. Já foram registradas cerca de 250 espécies arbóreas, com destaque para o Jequitibá, Massaranduba, Sapucaia e o Palmito Jussara, além da ocorrência de bromélias e orquídeas, espécie sensível a qualquer alteração no ambiente.  

Além disso, Whitson ressaltou que entre todas as Reservas Biológicas do país, a Rebio União é a campeã em pesquisa científica, sendo mais de 50 em andamento. E entre todas as unidades de conservação no Brasil (que mais de 3 mil), a União está em 13º em produção científica. “Isso é gratificante para nós, pois mostra o reconhecimento do trabalho feito dentro da reserva”, falou o chefe, informando ainda que as instalações da antiga Fazenda União foram reformas e hoje servem de alojamentos para pesquisadores ou se transformaram em espaços utilizados pelos funcionários e visitantes, como o Centro de Convivência, a recepção e a casa da administração. 

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